Obras Mortas

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O Novo Testamento fala das obras da carne (Gálatas 5:19) assim como de obras mortas (Hebreus 6:1).

Aqueles que se entregam às obras da carne, tais como imoralidade, porfias, ciúmes, explosões de raiva etc, certamente não herdarão o reino de Deus. Essas obras são tão obviamente pecaminosas que seria difícil para um crente praticar qualquer uma delas sem ser condenado por sua consciência.

Obras mortas, no entanto, são mais enganosas. Elas são externamente boas obras, mas brotam de uma fonte corrupta (porque nada de bom habita em nossa carne), e são, portanto, como um vestido imundo aos olhos de Deus (Romanos 7:18; Isaías 64:6).

Somos ordenados a nos arrependermos não apenas do pecado, mas também de obras mortas. É só depois de lançarmos tal fundamento, que podemos prosseguir para a perfeição (Hebreus 6:1).

É bem conhecido entre os crentes que o sangue de Jesus pode nos purificar de todo o pecado. O que não é tão bem conhecido é o fato de que o sangue de Cristo deve também purificar a nossa consciência das obras mortas, antes de podermos servir ao Deus vivo corretamente (Hebreus 9:14).

É essencial, portanto, que tenhamos uma compreensão clara do que realmente são obras mortas.

1.Obras Feitas sem Alegria

Deus ama a quem dá com alegria (II Coríntios 9:7). Ele também ama aquele que faz alegremente a Sua vontade. Ele sai ao encontro dos que se alegram em fazer justiça (Isaías 64:5). Quando os israelitas não serviam ao Senhor com alegria, eles eram punidos com a punição de servir aos seus inimigos (Deuteronômio 28:47,48). O reino de Deus consiste em justiça acompanhada pela alegria do Espírito Santo (Romanos 14:17). Somente aqueles que se deleitam em fazer a Sua vontade podem trazer alegria ao coração de Deus.

Considere a questão do dízimo, por exemplo. Essa era uma lei sob a antiga aliança. Mas nunca foi ordenada por Jesus ou os apóstolos para aqueles sob a nova aliança. No entanto, multidões de pastores gananciosos compelem suas congregações a dar o dízimo obrigatoriamente por meio de promessas de recompensa divina ou por meio de ameaças de julgamento divino. As pessoas pagam, mas sem alegria. Não é doação espontânea, mas doação de má vontade e com relutância. Os pastores ficam alegres quando as caixas de oferta estão cheias, mas Deus não. Os pastores amam grandes doadores, mas Deus ama apenas doadores alegres!

O princípio da nova aliança NÃO é "dê o tanto que você pode dar", mas "dê o tanto que você pode dar com alegria". Deus não quer mais que isso. Claro que você vai receber na mesma proporção que você dá (II Coríntios 9:7; Lucas 6:38) - mas isso é outra questão. Deus não deseja nenhum trabalho ou oferta que são dados de má vontade. O que fazemos sem alegria é uma obra morta.

2. Obras Feitas sem Amor.

Amar a Deus e aos homens são os dois pilares nos quais todos os outros mandamentos se sustentam (Mateus 22:40). Remova esses pilares e tudo cai no chão. Foi por isso que o líder da igreja de Éfeso foi repreendido. Suas obras já não eram mais motivadas pelo amor a Deus e aos homens (Apocalipse 2:2,4). Se obedecermos aos mandamentos de Deus sem manter seu espírito [sentido], as nossas obras tornam-se obras mortas. Se estamos para ser apontados pelo Senhor como pastores do Seu rebanho, Ele vai nos testar primeiro (como fez com Pedro) para ver se O amamos acima de tudo (João 21:15-17). Caso contrário, o nosso serviço seria sem valor. Da mesma forma, não é suficiente apenas bendizer aqueles que nos maldizem. Devemos amá-los de todo o nosso coração também. Caso contrário, manteremos a letra da Palavra, mas não seu espírito [sentido]. Semelhantemente, se servirmos os irmãos e irmãs na igreja porque somos ensinados a fazê-lo, mas ainda assim os criticamos (talvez por não serem gratos a nós), então o nosso serviço torna-se uma pilha de obras mortas. Todo o nosso sacrifício para o trabalho do Senhor são obras mortas sem valor, se não brotam do amor por Ele.

. 3.Obras Feitas sem Zelo.

"Conheço as tuas obras ... és morno, nem frio nem quente ... sê pois zeloso" (Apocalipse 3:15-19). Obras feitas com indiferança [sem ser de todo o coração] são obras mortas. Devemos amar ao Senhor nosso Deus com todo o nosso coração, toda a nossa alma, toda a nossa mente e com toda a nossa força (Marcos 12:30). Nossa adoração e louvor devem ser sinceros [de todo o coração], não sem vida e morto. Nossa oração deve ser com peso [fervor sincero] e a nossa profecia com zelo. Devemos ser "fervorosos no espírito" em todo o tempo (Romanos 12:11). O fogo deve queimar no altar perpetuamente (Levítico 6:13). Devemos constantemente atiçar a chama dos dons do Espírito com que Deus nos dotou, e não desprezá-los ou escarnecer deles apenas porque muitos têm abusado deles (II Timóteo 1:7). A maioria das assembleias cristãs hoje estão em uma condição sem vida, faltando o fogo ardente do Espírito Santo. Elas estão prestes a serem rejeitadas pelo Senhor (Apocalipse 3:16) por sua falta de zelo. Precisamos nos arrepender de tais obras mortas em nossa própria vida.

. 4.Obras Feitas sem Fé.

Como a fé sem obras é morta (Tiago 2:26), assim também as obras sem fé são obras mortas. Muitas reuniões de oração são mortas por causa da falta de fé. Cinco minutos de oração cheia de fé é mais vivo e mais poderoso para a realização dos propósitos de Deus do que uma noite toda de reunião de oração passada como uma proeza de resistência [humana]. Jesus orou a noite toda e devemos fazer o mesmo, quando há uma necessidade para isso - mas certamente não como uma obra morta. Fé também significa convicção pessoal (Romanos 14:22). O que fazemos sem convicção pessoal é uma obra morta. Simplesmente porque algum grande homem de Deus crê e ensina uma doutrina particular, isso não significa que devemos imitá-lo. No entanto, a cristandade está cheia de crentes que, sem nenhuma convicção pessoal, seguem cegamente outros homens. Imitação sempre traz a morte. Os israelitas atravessaram o Mar Vermelho pela fé. Os egípcios os imitaram e se afogaram (Hebreus 11:29). Isso foi escrito para nossa advertência. Não imitar as ações ou o ministério dos outros. Não devemos imitar a ênfase que outro homem tem em seu ministério. Isso também seria uma obra morta. Temos de profetizar de acordo com a proporção de nossa fé (Romanos 12:6). Deus quer que sejamos nós mesmos, pois Ele tem uma contribuição única, para fazer por meio de nossa própria personalidade distinta, para o corpo de Cristo.

. 5.Obras Feitas para Ganho Pessoal e Honra.

"Eu conheço as tuas obras; tens nome de que vives, mas estás morto" (Apocalipse 3:1).

Aqui havia um homem que estava morto espiritualmente, mas ainda estava satisfeito, porque tinha um nome de que estava vivo. Ele procurou o louvor de homem mais do que o louvor de Deus (João 5:44; 12:43); e, como resultado, todas as suas obras eram obras mortas. Tudo o que fazemos para impressionar o homem é uma obra morta. Tudo o que fazemos que queremos que os outros saibam é também uma obra morta (Mateus 6:1-18). Obras vivas são feitas em segredo diante da face de Deus somente, com todos os esforços possíveis feitos para escondê-las dos olhos dos homens. Sempre que nos gloriamos em nossas realizações para Deus, começamos a "adorar as obras de nossas mãos" (Atos 7:41), e as nossas obras imediatamente se tornam obras mortas. É assim que a Babilônia é construída, como Daniel 4:30 explica.

Tão logo somos tentados a pensar sobre a opinião dos outros sobre nós mesmos ou o nosso trabalho, devemos jogar esses pensamentos no sistema de esgoto, ao qual eles pertencem. Até mesmo a opinião que grandes homens de Deus têm sobre nós deve ser tirada de nossas mentes e enviada para os canos de esgoto. "Nossa justiça aos olhos humanos é uma abominação (só pode servir para o esgoto) aos olhos de Deus" (Lucas 16:15).

Só quem é radical assim pode ter esperança de escapar das obras mortas. Da mesma forma, o trabalho feito para o Senhor por um salário é uma obra morta. Trabalho realizado por um salário não é trabalho cristão. É um trabalho secular - mesmo que leve o nome de "cristão". É impossível servir a Deus e ao dinheiro.

. 6.Obras Feitas meramente para Aliviar a Própria Consciência.

Aos gentios são solicitadas determinadas obras, tais como jejum, oração e esmola por causa das acusações da própria consciência (Romanos 2:15).

É possível também os cristãos fazerem essas obras apenas para aliviar a própria consciência. Muitos leem a Bíblia e oram diariamente, simplesmente para aliviar as acusações da própria consciência. Pela mesma razão, vão a reuniões, pagam o dízimo, dão esmolas a mendigos, etc. Todas essas obras são obras mortas. Há pregadores que se aproveitam dessa fraqueza nos crentes e os exortam a fazerem algo para os milhões que perecem "sem Cristo". "Ou dar ou ir", dizem às pessoas. Como resultado, alguns dão dinheiro, e outros deixam seus empregos e vão para o trabalho cristão. Mas ambos os grupos, agindo sem a liderança do Senhor, mas somente na emoção do momento para aliviar a consciência culpada, acabam em um círculo infinito de obras mortas.

. 7.Obras Feitas por causa do Medo do Julgamento Divino.

Evitar o pecado porque tememos o julgamento de Deus é bom, mas certamente esse não é o motivo pelo qual Jesus evitou o pecado. Jesus evitou o pecado, porque Ele queria agradar ao Pai. Esse deve ser o nosso motivo também. Suponha que não houvesse nenhuma punição por cobiçar mulheres, ou por dizer mentiras, ou manter rancor contra outro – cederíamos nós a esses pecados? Ou será se ainda os evitaríamos porque o nosso desejo fundamental é agradar a Deus? Deixe que cada pessoa responda a essa pergunta por si mesma e desenvolva a sua própria salvação das obras mortas, com temor e tremor. Perdoar os outros apenas porque não queremos pegar alguma doença como julgamento de Deus ou porque queremos que Deus nos perdoe é uma obra morta – porque é motivada por um medo egoísta de julgamento. Que diremos, então, acerca daqueles que leem a Bíblia e oram pela manhã apenas para evitar qualquer acidente durante o dia! Isso cai na mesma classe da pior superstição pagã!

. 8.Obras Feitas em Prol da Obtenção de uma Recompensa.

Embora seja verdade que Jesus vai recompensar os fiéis (Apocalipse 22:12), e embora também seja verdade que o principal desejo de nossa vida deve ser agradar ao Senhor (II Coríntios. 5:9), para que, um dia, possamos ouvir dEle as palavras "muito bem, servo bom e fiel"; contudo, o próprio Jesus nos advertiu contra o desejo egocêntrico, ainda que de uma recompensa celestial, motivando-nos em nossos sacrifícios e nosso serviço para Ele.

Quando Pedro se comparou favoravelmente com o jovem rico (que tinha acabado de se retirar de Jesus) e fez a pergunta: "O que receberemos por tudo o que deixamos por Você?" (Mateus 19:27), Jesus respondeu com a parábola dos trabalhadores (Mateus 20:1-16). Lá nós vemos que aqueles que trabalharam pelo salário (recompensa) acabaram por último, enquanto aqueles que trabalharam sem nenhum pensamento na recompensa terminaram em primeiro lugar (mesmo que eles tenham feito apenas uma pequena porcentagem do trabalho que os anteriores fizeram).

Quantidade versus qualidade – aqui vemos a diferença entre obras vivas e obras mortas. Obras feitas com a esperança de finalmente ser promovido acima de outros crentes e encontrar um lugar na noiva de Cristo serão expostas como obras mortas, no dia final.

Se você purificar seu pensamento, fizer bem aos outros, e amar sua esposa ou sujeitar-se ao seu marido, tudo com o pensamento de ser exaltado em algum dia futuro, então o “Ego” ainda está no centro de sua vida, e todas as suas “boas” obras egocêntricas são obras mortas!

Aqueles que ganham coroas de glória são rápidos em lançá-las aos pés do Senhor, dizendo: "Só Tu, Senhor, és digno” (Apocalipse 4:10). É somente quando eliminamos das nossas vidas outras motivações que não seja somente o desejo de dar glória a Deus, que podemos ser libertos das obras mortas. Se mantivermos um registro em nossa memória de todas as obras boas que fizemos, essas boas obras tornam-se obras mortas.

Jesus deu-nos dois retratos do Dia do Julgamento Final - um em que as pessoas listavam diante do Senhor todas as coisas boas que tinham feito em suas vidas terrenas: "Senhor, nós profetizamos em Teu nome, curamos os enfermos em Teu nome, etc" (Mateus 7:22,23). Essas pessoas foram rejeitadas pelo Senhor. No outro retrato vemos os justos surpresos quando são lembrados pelo Senhor do bem que tinham feito em suas vidas terrenas: "Senhor, quando fizemos isso?" é o seu grito de surpresa (Mateus 25:34-40). Eles haviam esquecido o bem que tinham feito - porque eles não tinham feito aquelas obras pela recompensa. Aqui vemos um claro contraste entre obras mortas e obras vivas. Em que categoria nos encaixamos?

. 9.Obras Feitas sem Levar o Morrer de Jesus.

Obras vivas são apenas aquelas que fluem da vida de Jesus dentro de nós. É impossível ter esta vida de Jesus sem primeiro levar “o morrer de Jesus’’ - a cruz de cada dia (II Coríntios 4:10). Se nós apenas controlamos a nossa língua de falar com raiva ou nossos rostos de ficarem carrancudos, mas ainda estamos fervendo de raiva e irritação por dentro, isso não é vitória – isso é repressão. Esse é o ensinamento de yoga e não de Jesus Cristo. Jesus nos disse para levarmos a nossa cruz a cada dia. Isso significa colocar a carne para morrer diariamente (Gálatas 5:24). A morte por crucificação é um longo processo - ao contrário de morte por tiro de arma ou enforcamento. A carne não pode ser morta por tiro nem enforcada em um momento, só pode ser crucificada. Mas, se formos fiéis em manter esse criminoso [carne] na cruz, a morte virá no devido tempo - e vamos um dia cessar de pecar - mesmo internamente (I Pedro 4:1). Então, as obras vivas do Espírito fluirão como rios de águas vivas de dentro do nosso ser (João 7:38). Nossas atitudes interiores, então, corresponderão à nossa aparência exterior e obras. Assim, não haverá mais necessidade de sorrisos artificiais ou de qualquer outra forma de piedade [devoção] externa.

. 10.Obras que se Originam da Nossa Própria Razão Humana.

O trabalho altruísta e sacrificial de Marta para o Senhor e o Seu povo é um bom exemplo de boas obras que são obras mortas (Lucas 10:38-42). Ela fez o trabalho apenas porque sentiu que era uma boa obra a fazer. Mas "a coisa mais importante sobre um servo é que ele faz o que seu mestre lhe diz para fazer" - não o que ele sente vontade de fazer (I Coríntios 4:2). Assim, Maria foi mais sábia em primeiro se sentar aos pés de Jesus para ouvir o que Ele queria que ela fizesse. Hebreus 4:10,12 diz que a palavra de Deus faz divisão entre o anímico [relativo à alma, à vontade e à emoção do homem] e o espiritual; e assim como estamos a cessar do pecado, estamos a deixar de fazer nossas próprias obras também. Obras da alma [da vontade do homem] são obras mortas. Jesus nunca fez nada por iniciativa própria (João 5:30). Ainda hoje Deus está procurando não por aqueles que têm idéias brilhantes sobre como fazer Seu trabalho (tais só podem produzir "ismaelitas"), mas por aqueles que são humildes o suficiente para reconhecer sua falta de sabedoria e força e que se fazem disponíveis para Deus usá-los, como Lhe agrada. Deus não olha para a capacidade, mas sim para a disponibilidade.

Depois de ter ouvido falar sobre obras mortas agora, o grande perigo para alguns de nós pode ser o de se afastar do precipício de “obras mortas” e cair no precipício do outro lado do caminho estreito - o precipício de “fazer nada”. Isso seria pior. As obras vivas do Espírito podem ser produzidas por nós apenas quando cooperamos com o Espírito em viver uma vida disciplinada - não a lei, mas a disciplina.

Vamos, então, purificar-nos não só de toda a imundicía da carne, mas também da que é do espírito (II Coríntios 7:1), para que os nossos atos de justiça possam se tornar nosso vestido de noiva no dia do casamento do Cordeiro (Apocalipse 19:8).